sexta-feira, julho 23, 2010

#63 - Entrevista: Passa-Mal (Lomba Raivosa)

Alguns devem conhecer o César "Passa-mal" por causa do Lomba Raivosa, ou por sua ex banda, The Razorblades, ou por que foi um dos sortudos que, recentemente, teve a honra de tocar ao lado de Richie Ramone e Mickey Leigh. Outros, podem ter visto ele na coluna hype do Lucio Ribeiro como o garoto que entalou na porta do banheiro da Outs. Mas se ainda assim, você não o conhece, pode saber mais um pouco sobre ele nesta entrevista. Convidei ele para bater um papo com o Game'n'roll, e ele aceitou traquilamente responder algumas perguntas sobre games e música.

Game'n'roll: Quando você começou no mundo da musica? Quais bandas te influenciaram?
Passa-mal: Cara, isso aí é meio relativo. Se for fazer uma linha do tempo maluca assim, eu comecei ouvindo The Doors, Pink Floyd e Raul Seixas por culpa do meu pai, ele tinha uns LPs muito doidos. Eu lembro que quando tinha uns 8 anos pirava na capa do Doors, com o Jim Morrison naquela pose clássica, achava que era tipo um Jesus Cristo.
Mas por conta própria, a primeira banda que ouvi mesmo e gostei mesmo foi o Aerosmith, na época do Nine Lives e tal. Aí veio Oasis e logo em seguida me apareceu o que ferraria minha vida pra sempre: Green Day. Foi com eles que descobri o que era um baixo e desde a oitava série eu já queria ser baixista e ficar doidão. Nirvana e Ramones também pesaram muito logo na sequência. 
Mas assim, influência direta no jeito que eu toco acho que é tudo de mais desleixado que tem, apesar de também curtir umas coisas levemente trampadas. NOFX, Holly TreeGreen Day, acho que foram as que mais me influenciaram no começo.

Game'n'roll: Você também foi influenciado pelas bandas das trilhas sonoras do Tony Hawk?
Passa-mal: Porra, demais! Conheci muita banda pela trilha do primeiro e segundo Tony Hawk. Era uma época que a internet nem dava sinal que seria essa loucura toda, tão fácil de baixar CDs e conhecer 100 bandas num dia. 
Suicidal Tendencies, Dead Kennedys e Suicide Machines foram bandas que conheci por conta do primeiro Tony Hawk, lá em 1999. Acho sensacional as trilhas de todos os Tony Hawk, eles mesclam bem os estilos das bandas e tem muita coisa ali que ninguém conheceria tão facilmente.

Game'n'roll: Quando surgiu a ideia do Lomba Raivosa? Por que este nome?
Passa-Mal:
Esse nome horrível veio quando eu estava tocando em Campinas ainda com o The Razorblades. Depois do show todo mundo tava completamente bêbado e retardado, resolvemos comer uma pizza e uma hora comecei a falar pro Testa que queria montar uma banda nova, de punk podre, bem horrível, que fosse bem raivosa mesmo. Foi quando veio a idéia e já gritei: "Tem que chamar Lomba Raivosa!"
O lance do "Lomba" é porque me chamam de lomba às vezes, graças a história de eu ter ficado entalado na porta do Outs, preso pela lomba. Foi assim, nem achei que a banda fosse virar real nem nada, era só pra ser uma brincadeira de bêbado.

Game'n'roll: Voltando um pouco no tempo, só para tirar uma dúvida. É verdade que a primeira demo do The Razorblades (912 Days in Vain) foi feita toda em casa? Se sim, como vocês fizeram para gravar? Já que  o resultado foi muito melhor que bandas que pagam horas de estúdio, e fazem coisas tão ruins.
Passa-Mal:
É verdade sim, gravamos tudo na casa do Cani, num estúdiozinho que ele tinha montado. Foi muito faça você mesmo essa parada, ele manja algumas coisas de gravação, tinha uma placa de áudio boa, uns mics. Enfim, o equipamento necessário pra fazer uma gravação caseira bacana. 
A gente levou um tempão gravando tudo, coisa de uns oito finais de semana assim. Queríamos que ficasse bem legal por ser a primeira vez que a gente gravava músicas nossas, então fizemos o melhor que dava na época. Éramos só nós dois na banda, o próprio Cani gravou  quatro músicas na bateria, sendo que em outras chamamos um conhecido pra tocar. Isso aí do resultado ter ficado legal, eu te agradeço pelo carinho!  (risos)
Ouvindo hoje, eu acho o CD legal, é bem inocente, mas é legal. O segredo para o som ter ficado bom é que mixamos com um amigo nosso, do Estúdio Cativeiro. Ele deu um grau de tipo, 300% no som original. Mas acho que hoje em dia dá pra se fazer coisas bem bacanas em home studios, não há dúvida, falta de grana não é mais desculpa pra não gravar.

Game'n'roll: Quem acompanha seu blog/flog sabe que você costuma em ir em vários shows internacionais. Qual foi o melhor que você já viu até agora? E que banda você gostaria de ver de perto?
Passa-mal:
Já vi bastante coisa, mas também perdi muita coisa por falta de grana, vida de merda é assim. Acho difícil escolher o melhor show de todos, mas tem uns que marcaram demais. O The Hives em 2008 foi impressionante, eles são monstruosos ao vivo, uma performance que cansa só de ver. 
O NOFX esse ano foi muito especial, tinha perdido show deles em 2006. Dessa vez eu estava doidão e era o primeiro colado na grade, morrendo de calor naquele lugar de merda que escolheram pra fazer o show, mas mesmo assim foi absurdo, teve muita emoção em jogo. E também o Foo Fighters no Rock in Rio 3, primeiro show que fui na vida, naquele mar de gente, foi cabuloso! Acho que esses três empatam no topo. 
Pô, banda que eu queria muito ver era o Green Day, logicamente, mas agora eles estão vindo e vou resolver isso. Pra ser sincero, das bandas vivas, a que eu queria muito ver é o Queens of The Stone Age, pra mim é a melhor banda de 2000 pra cá.

Game'n'roll: Quais discos você tem ouvido ultimamente que você recomenda?
Passa-mal:
Essas últimas semanas eu tenho ouvido muito o "Scrambles" do Bomb the Music Industry!, "Phrazes for the Young", o CD solo do Julian Casablancas, "Blue Album" do Weezer e acabei de conhecer e viciar numa banda, The Anniversary. Tô pirando no CD deles, "Designing a Nervous Breakdown". 
Agora pra recomendar, eu só recomendo Bomb the Music Industry! pra todo mundo nos últimos tempos. Porra, eles liberam os CDs de graça, tem letras fenomenais e um som absurdo. Foi a banda que mais gostei ultimamente, recomendo demais.

(Nota do Editor: acesse a Quote Unquote Records, conheça o Bomb The Music Industry e outras ótimas bandas, baixando discos de graça)

Game'n'roll: Quando você começou suas aventuras no mundo dos games? Qual foi o seu primeiro console?
Passa-mal:
Comecei com uns sete anos, meu primeiro videogame foi o Megadrive. Já tinha jogado Atari antes, mas não esqueço até hoje como foi a primeira vez que vi o Sonic rolando. Tinha ido na casa de um tio e pouco antes de ir embora ele me chamou pra ver uma coisa que tinha comprado, entrei na sala e ele ligou aquele treco, só lembro que fiquei hipnotizado pelo porco espinho demente. 
Voltei pra casa e sabia que ia ter que pedir aquele negócio pros meus pais, fiz isso por uns 6 meses e no Natal ganhei, quase me mijei inteiro jogando. Joguei por um dia sem parar, vestindo a gigantesca camiseta GG do Sonic que vinha com o videogame.

Game'n'roll: Alguma história engraçada ou bizarra que aconteceu enquanto você jogava?
Passa-Mal:
Ahh, eu não vou mentir, eu sempre fui meio erotizado com os jogos. Vai dizer que você nunca deu pause pra ver a Chun-Li rodando de ponta cabeça com a calcinha aparecendo? Eu fui um pouco além, com aquela garota que ficava balançando a bandeira na largada do Cruisin´ USA, mas enfim. 
De engraçado mesmo, teve uma vez que tentei ensinar meu pai a jogar Mortal Kombat II, ele odiava quando eu usava o Sub Zero e usava a magia de congelar, uma hora ele gritou "Não usa mais essa merda!". Aí, juro que fiz sem querer e levei o maior pescotapa da minha vida.

Game'n'roll: Algum jogo já te influenciou para alguma letra ou já pensou em escrever uma letra com referencias de games?
Passa-Mal:
Tem uns jogos que tem histórias bem fortes e sempre dá pra pegar alguma referência, como se fossem filmes. Aliás, tem games que pra mim são como filmes interativos. O GTA IV deu uma influenciada em alguns pensamentos, tem partes bem boas na história dele, mas não sei te dizer qual letra tem influência direta e clara disso, acho que é mais como um todo. Bioshock, Silent Hill, No More Heroes, são exemplos de jogos que tem boas referências pra músicas, tem uns textos muito bons.

Game'n'roll: Qual fase de jogo você mais quebrou a cabeça para passar?
Passa-Mal:
Essa é foda, é meio ridículo mas foi o templo do fogo do Zelda: Ocarina of Time. Ele é um dos templos mais fáceis, mas tem uma parte que você precisa saltar e agarrar uma plataforma onde tem uma porta. Acontece que a primeira vez que eu saltei não consegui agarrar na plataforma e ela é realmente bem mais alta que o normal, não parece que dá pra se agarrar naquilo, é mal feito. 
Isso custou quase um mês da minha vida. Fiz de tudo, comecei a dar espadada em todas as paredes do templo igual um retardado, pra ver se a parede era fina e dava pra estourar com bombas. Foi um pesadelo nerd. 
Aí fiz uma coisa que até onde sei só eu fiz, terminei o tempo da água antes! Aquele maldito templo difícil eu consegui terminar e o do fogo que é facinho não conseguia. Até que apelei pra um detonado e lá tinha a foto do Link pulando direto pra plataforma, mostrei pro meu amigo e testamos juntos, deu certo e ficamos com a maior cara de idiotas do mundo.

Game'n'roll: O que foi mais difícil de passar? A fase do fogo do Zelda: Ocarina Of Time ou desentalar da porta do banheiro da Outs?
Passa-Mal:
(Risos) A do Zelda com certeza, levei um mês pensando naquilo. O banheiro foi só 40 minutos de sufoco e eu estava bêbado, nem lembro de quase nada.

Game'n'roll: Algum jogo está fazendo você ficar horas jogando e esquecer da vida?
Passa-Mal:
O último jogo que consumiu muito minha vida foi o GTAIV, tenho 120 horas nele.
Tenho alguns jogos pra terminar que ainda não consegui arrumar tempo, é difícil se concentrar nisso quando tem amigos loucos te chamando pra beber ou tocar.

Game'n'roll: Que bandas você acha que merece ter um Guitar Hero ou Rock Band exclusivo? Por que?
Passa-Mal:
Acho que até agora as escolhas foram bem justas, Metallica, Aerosmith, Beatles, Green Day, são bandas gigantes que funcionam muito bem com a dinâmica desses jogos, cada um na sua. 
O Van Halen já achei desnecessário, eu e meio mundo. Acho que seria legal um realmente bem feito do AC/DC, aquele ao vivo não foi muito caprichado, porque é uma das melhores bandas pra festas e esses jogos são pra farrear, então casaria muito bem.

Game'n'roll: O que é melhor? Juntar os amigos para jogar Rock Band Green Day ou Guitar Hero Metallica, ou juntar o pessoal para tocar covers a toa?
Passa-Mal:
Acho que cada um tem lá seu valor. No carnaval desse ano juntei um monte de amigos e ficamos jogando Guitar Hero Metallica e World Tour até enjoar e quebrarem o prato da bateria. Isso é legal pra se fazer num apartamento e tal, é divertido, bêbado principalmente. 
Mas nenhum jogo supera o sentimento de entrar num estúdio e tocar covers com instrumentos de verdade, é outra coisa, só tem aquela dificuldade de todo mundo ter que saber as mesmas músicas...mas essa é a graça e a bebida dá um jeito nisso aí também.

Game'n'roll: Alguns músicos, como o Jack White e Jimmy Page, não gostam dos jogos musicais. Eles dizem que as pessoas deveriam passar mais tempo tocando instrumentos reais do ficar jogando. O que você acha disso?
Passa-Mal:
Entendo a opinião deles, concordo que instrumentos reais sempre serão infinitamente superiores, porque depois de aprender a tocar você pode criar suas próprias músicas e essa é a idéia. 
Tem gente que só aprende a tocar instrumento pra fazer cover, isso me irrita. Então melhor alguém que só toque covers com guitarrinhas de plástico e botões coloridos do que enchendo o saco em palcos. 
Mas em relação à diversão, acho que tanto faz, eu vejo esses jogos como um videokê ampliado, é outro jeito de curtir música. Eu toco, tenho banda e gosto de jogar guitar hero, não vejo como uma coisa pode eliminar outra.

Game'n'roll: Muito obrigado pela a entrevista. Então deixe um recado para o pessoal que visita o blog.
Passa-Mal:
Joguem mais jogos. Curtam mais shows. Fiquem mais loucos. Se divirtam nessa vida, é só o que sobra no final.


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Blog Passa-Mal-icious
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Um comentário:

  1. Cara, MUITO foda a entrevista !
    Quando ele fala sobre Tony Hawk, Green Day, Gravações e coisas do tipo...me identifiquei pra caramba.
    E vou procurar Bomb the Music Industry, de tanto que vocês falam, me deu vontade de ir conhecer.

    E parabéns pelo blog !
    Abração

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